Workshop em Hamburgo (06.2022)
A oficina do Projeto COVIDGI foi sobre uma intensa troca de ideias, apresentação de experiencias extraordinárias e um ambiente muito produtivo de relacionamento. No início de junho de 2022, trouxemos os parceiros do projeto do Brasil, Argentina, Suíça e outros países para passar uma semana conosco em Hamburgo. Discutimos nossas abordagens científicas, que foram desde a etnografia até o sensoriamento remoto, passando por estatística, sistemas e indicadores e muito trabalho de campo. O grupo também abordou os desafios de viver e fazer pesquisa durante a pandemia. Discutimos pesquisa em saúde, urbanização, mobilidade, geografia e ciência de dados. Poder estar presencialmente juntos foi importantíssimo após tanto tempo em diversas formas de isolamento, como provam as futuras colaborações que se iniciaram na oficina. Os outros resultados são números, mas a seguir você encontra um compilado de cada sessão com algumas imagens para ilustrar o que ocorreu.
O evento iniciou com as nossas pesquisas em vulnerabilidade. Alexandre Pereira Santos apresentou nosso trabalho no tema, partindo dos conceitos de Adger e Pelling até chegar aos métodos mistos que utilizamos no COVIDGI. Ele terminou nos colocando para trabalhar em grupos com uma discussão sobre os fatores e territórios de vulnerabilidade no Brasil, e as possíveis respostas à pandemia do COVID-19 em curso. O trabalho dele pode ser explorado neste recente artigo.
Katharina Heider coordenou uma sessão no formato de galeria de pôsteres sobre nossa Caixa de Ferramentas. A sessão permitiu ver diferentes aspectos de nossa pesquisa lado a lado, desde estatística de efeitos fixos e randômicos, até o trabalho de campo realizado no Brasil, passando por escores de risco que incluem vulnerabilidade e os efeitos de comportamento social em número de casos e mortes por COVID-19 usando dados geográficos voluntários.
Yechennan Peng e Mobeen Muhammad mostraram seu trabalho sobre modelos baseados em agente. O ápice desta sessão se deu pelo trabalho em grupo com todos os presentes, no qual discutimos perfis, comportamento e os impactos das escolhas de mobilidade na exposição ao Coronavírus. Ao final, executamos o modelo ao vivo e discutimos alguns dos resultados.
As extraordinárias contribuições dos participantes foram abertas e moderada pelo Prof. Julio Vargas. Exploramos a grande sinergia entre nossos convidados:
A primeira contribuição foi da Prof. Roberta Kronka Mülfarth, que mostrou seu trabalho em mobilidade ativa e ambiente urbano pela Universidade de São Paulo. O contraste das áreas com alto grau de infraestrutura, porém sem pessoas a utilizá-la apresenta contradições na produção de espaços abertos.
A Prof. Ligia Vizeu Barrozo então apresentou seu trabalho sobre saúde e urbanização no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Seu grupo vem produzindo publicações extremamente robustas sobre o papel da renda como fator diferenciador dos impactos da COVID-19 na população. Outros resultados incluem a transição da concentração dos casos de COVID-19 de áreas com menor para áreas com maior vulnerabilidade durante a evolução da pandemia, a distribuição das taxas de fatalidade em hospitais, e o desenvolvimento de um índice socioeconômico para saúde e pesquisa social, o GeoSES.
Cleiton Chiarel nos trouxe informações sobre iniciativas em um contexto de comunidades locais. Seu trabalho transita entre economia criativa, inovação social e cultura e sua apresentação nos atentou para a urgente necessidade de novos pesquisadores que possam se conectar a estas organizações, especialmente para entendermos o papel de políticas públicas durante crises como a do COVID-19.
Sergio Gresse Jr nos apresentou seus esforços inicias em pesquisa em saúde pública pela Universidade de Ciências Aplicadas de Hamburgo. Ele se juntou ao grupo COVIDGI em março de 2022 como nosso assistente e falou como enxerga as transformações permanentes trazidas pela COVID-19 às cidades e à sociedade. Falou também sobre suas preocupações com os impactos sem precedentes da pandemia em comportamento e saúde mental, em especial das populações mais vulneráveis. Ao final, deu seu depoimento pessoal sobre seu trabalho como profissional de saúde em um grupo de estudos urbanos durante a pandemia.
Orla Canavan aplicou o método Canvas de mapeamento de nossos potenciais usuários. Foi marcante a todos os presentes o fato de quanto assumimos saber sobre determinado tema e de como é difícil apontar o valor agregado e os problemas que a ciência deve enfrentar. Foi revigorante observar a produção cientifica e as políticas públicas tendo claros os seus agentes e usuários em mente.
Leonardo Veiga, do ITDP Brasil, apresentou seu trabalho na plataforma Mobilidados. Aproveitamos da poderosa política de dados abertos no âmbito de planejamento em transporte. Nossa discussão foi intensa e transitou entre as conquistas e os desafios para atingir o público-alvo dos dados abertos.
Prof. Julio Celso Vargas, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, falou sobre sua pesquisa em saúde e ambientes urbanos. Seu trabalho examina as determinantes sociais da saúde e atualmente explora o papel de escolhas comportamentais em condições como doenças cardiovasculares e diabetes. Em sua fala, o professor comentou que a COVID-19 deu novo protagonismo a doenças transmissíveis, que muitos achavam estar superadas.
Orla Canavan trouxe seu trabalho na iniciativa 510 da Cruz Vermelha Internacional de forma tocante. Ela aprestou a importância de integrar os dados às narrativas dos sujeitos retratados na informação. O trabalho do 510 no Malawi é poderoso e sua mediação fez maravilhas por nosso esforço coletivo.
Bibiana Umann discutiu seu trabalho em duas comunidades indígenas em Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul. Estes exemplos de luta por direitos de respeito a territórios tradicionais e mesmo pela sobrevivência destes grupos, mostraram como o uso de informação deve estar fundamentado em propósitos claros e princípios éticos. Em sua fala marcante, ela diz “Trabalhando sob demanda, as comunidades vêm até nós nos dizendo o que precisam. Assumimos apenas pequenos projetos para estarmos seguros de que podemos entregá-los.”
Nahir Cantar, pesquisadora do Consejo Nacional de Investigaciones Cientificas y Tecnicas da Argentina, mostrou suas duas mentes: a de pesquisadora em patrimônio e a de agente social que atua com projetos de moradia. Seu trabalho brilhante em ambas às frentes mostrou uma excepcional abordagem com métodos qualitativos.
Ygor Melo, gerente nacional social da TETO Brasil, disseminou sua mensagem transformadora. Ele desde cedo viveu na pele a luta por moradia e hoje luta através da TETO para aquirir, gerenciar e aplicar informação como suporte crítico às comunidades mais vulneráveis do Brasil.
Vitor Colombo, pesquisador da EPFL na Suíça, mostrou seu robusto trabalho em água, saneamento e higiene no continente africano. Sua pesquisa no mapeamento de doenças como diarreia mostra os limites de nossos conhecimentos sobre problemas básicos. Suas considerações finais ainda nos fazem refletir.
O workshop foi oficialmente encerrado com uma sessão coletiva de planejamento de futuras parcerias. Orla Canavan mais uma vez abrilhantou nosso encontro com seus métodos colaborativos, que permitiram um grande alinhamento entre os participantes.
Agradecemos em nome de toda a equipe do projeto COVIDGI a todos os convidados por estarem conosco. Suas contribuições proporcionaram uma atmosfera de troca aberta e constante de conhecimento e, consequentemente, uma oficina extremamente rica e produtiva.